A Solenidade de Corpus Christi ao lado do Natal e da Páscoa é uma das festas católicas mais conhecidas em todo o mundo. No Brasil é tradicional a confecção dos tapetes que enfeitam as ruas das cidades por onde passa o sacerdote que leva exposto em procissão o Santíssimo Sacramento. Embora a festa de Corpus Christi seja muito popular, grande parte dos fieis católicos desconhecem sua origem e história, é o que vamos contar brevemente.

Esta festa católica celebra a presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento, a Eucaristia. Foi instituída no século XIII, pelo Papa Urbano IV em 1264, e ocorre sempre na quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade. As palavras em latim Corpus Christi significam Corpo de Cristo. Esta festa tem origem em um milagre eucarístico, um dos mais importantes na história da Igreja, que ocorreu na cidade de Bolsena, na Itália. 

Conta-se que um sacerdote chamado Pedro, da cidade de Praga passava por uma crise de fé. Sua maior dúvida era com relação à presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia. Por conta da dúvida, o padre decide peregrinar até Roma para rezar nos túmulos dos santos, principalmente de São Pedro, para pedir a graça de ter confirmada sua fé. Durante a peregrinação o padre faz parada na cidade de Bolsena, lá se prepara para rezar a Santa Missa na Igreja dedicada a Santa Cristina. Durante a celebração da Missa, no momento da consagração do pão, o padre ainda com a dúvida em seu coração, após pronunciar as santas palavras percebe que a hóstia em suas mãos começa a ficar avermelhada e em seguida a escorrer sangue a ponto de molhar o corporal que está no altar.

Ao testemunhar tão grande milagre, o padre antes incrédulo, tem sua fé reavivada como a de Tomé, ele vê nas manchas de sangue no corporal a fisionomia do próprio Cristo. A Santa Missa é interrompida e o corporal ensanguentado junto com o Corpo do Senhor guardados na sacristia da Igreja. Pela providência divina, estava em Orvieto, cidade próxima a Bolsena, o Papa Urbano IV e sua corte pontifícia. Entusiasmado, o padre Pedro dirige-se a Orvieto para falar com o Papa.

Aos pés do Sumo Pontífice o pobre padre explica tudo: sua incredulidade, a finalidade da peregrinação a Roma e como ocorreu o milagre. O Papa profundamente comovido envia à cidade de Bolsena dois grandes teólogos e santos da Igreja: São Tomás de Aquino e São Boaventura, para averiguar o ocorrido. Constatada a veracidade do milagre, ele foi transladado de Bolsena a Orvieto, muitas pessoas acompanharam o cortejo e uma grande procissão se formou, quando se aproximavam da cidade o Papa vai ao encontro do milagre, ajoelhou-se e adorou Nosso Senhor Jesus Cristo, pronunciou as palavras Corpus Christi e mostrou as pessoas ali presentes a sagrada relíquia, a procissão segue até a cidade e grande foi a festa eucaristica. 

No ano de 1264, o Santo Padre publicou a bula “Transiturus”, com a qual ordenou que fosse celebrada a Solenidade de Corpus Christi em toda a Igreja. Do mesmo modo, o Papa Urbano IV encomendou a Santo Tomás de Aquino a preparação de um ofício litúrgico para a festa e a composição de hinos, que são entoados até o dia de hoje: Tantum Ergo, Lauda Sion. Em 1317 o Papa João XXII determinou que o Santíssimo Sacramento deveria ser levado em procissão pelas ruas da cidade para abençoar a todos, a partir daí começou a tradição de enfeitar as ruas com belos tapetes. A relíquia está em exposição até hoje na Catedral de Orvieto na Itália, ainda é visível no corporal as manchas de sangue de Nosso Senhor, já o corpo (a hóstia consagrada) ficou de tal forma umedecida pelo sangue que foi incorporada ao corporal.

Nosso Senhor Jesus Cristo em sua infinita misericórdia e bondade manifesta entre nós muitos milagres eucarísticos para reavivar nossa fé, muitas vezes vacilante, na sua presença verdadeira, real e substancial no Santíssimo Sacramento do altar. Peçamos nesta grande solenidade a Jesus que nos alcance a graça de reconhecer este Mistério da Fé, mesmo não compreendendo em sua totalidade, mas crendo firmemente nas sagradas palavras de Jesus, hoje repetidas pelos sacerdotes do mundo inteiro e cada Santa Missa.

Texto: Paulo Martinhão | Fotos: Ana Silvia

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